segunda-feira, 23 de março de 2020
As épocas de crise, como o próprio termo designa, transportam consigo
graves consequências; contudo, também deveriam ser encaradas como objeto
e matéria de reflexão e, até, de aprendizagem. O século XXI trouxe à
sociedade um novo paradigma de terror, de medo e de fobia, acrescentando
uma acentuada descrença no futuro. Lembro-me do dia 11 de setembro de
2001. Recordo-me do que estava a fazer quando vimos, em direto, o embate
de um avião numa das torres gémeas, em Nova Iorque. Observámos
a morte em direto, vimos o horror e o medo a poderem bater às nossas
portas. Algumas (muitas) das imensas vítimas do 11 de setembro, prevendo
a sua morte, ligaram aos seus familiares com mensagens de amor,
carinho, ternura..bastaram segundos para se ouvir um perdão, uma
desculpa..por breves instantes, houve um pingo da pureza entre seres
humanos. Agora, em 2020, enfrentamos um inimigo silencioso, tenebroso,
diferente dos terroristas de Londres, Paris, Bruxelas ou Barcelona. Um
inimigo que não grita, não acelera, não se explode: a doença, o vírus, a
infeção e a epidemia. Este inimigo transporta o medo, o pânico e a
loucura sociais. Traz consigo o desespero. Acarreta a incerteza. Mas
haja fé. Fé na ciência, nos profissionais que tudo dão em prol dos
outros. A natureza tem desígnios misteriosos. Os últimos dados apontam
para um elevado decréscimo nos níveis de gases poluentes na atmosfera.
Em casa, isolados socialmente, aproximam-se famílias, pais e filhos.
Desejamos rever bem, com toda a força e convicção, os nossos parentes.
Não deixamos para amanhã aquele telefonema inadiável. Não deixamos de
dar aquele gesto de conforto, aquele gesto que, muitas vezes, achamos
que podemos dar no dia seguinte ou na próxima semana. Percebemos que o
fim pode chegar. Queremos defender os nossos, não como nos EUA, com o
esgotar de munições, mas sim com o querer ter alimentos em casa (o papel
higiénico é a grande incógnita da equação). Percebemos que nada é
infinito e eterno. A tempestade há-de passar e, acredito plenamente, que
a humanidade que sairá desta crise, será diferente. Diferente para
melhor? Não sei. Mas tal dependerá, sempre, das lições que tirarmos
destes dias e semanas e meses..a crise de valores que tanto se apregoa
poderá ganhar, com estes tempos, o seu antivírus.
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